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Lenda do açaí mostra importância social do fruto

Açaí está presente indiretamente em outras narrativas por sua importância cultural para a região

Além de estar nas mesas dos paraenses, o açaí também se faz presente no imaginário da população amazônica. A importância do fruto e sua relação íntima com o cotidiano influenciou o surgimento de uma narrativa sobre a origem do açaí. De acordo com Socorro Simões, coordenadora do Programa O Imaginário nas Narrativas Orais Populares da Amazônia Paraense (IFNOPAP), da Universidade Federal do Pará (UFPA), a lenda reitera a importância social do açaí.

Açaí aparece indiretamente em outras lendas da Amazônica - Entre as mais de cinco mil narrativas coletadas pela pesquisa em 118 municípios do Pará, o açaí está presente em várias delas. “Ele surge como alimento no decorrer do enredo ou como referência de um lugar repleto das palmeiras de açaí ou ainda de um lugar batizado com o nome do fruto. Porém, nas cerca de 1.900 narrativas já catalogadas, numa Base de Dados, encontramos até agora apenas uma versão da lenda do açaí”, explica a pesquisadora da UFPA.

A história foi narrada pelo Mestre Miguel em sete de julho de 1995, na cidade de Vitória do Xingu, localizada no sudoeste do estado. Mas se passa na Belém pré-colonial, quando no local onde hoje está a capital do estado, habitavam os índios tupinambás.

Lenda do açaí fala sobre sobrevivência - “Mestre Miguel explica que a tribo cresceu extraordinariamente e que enfrentava dificuldades para obter alimentos. Então, o cacique Itaki, reuniu um grupo de indígenas e fez uma proposta terrível: a única possibilidade dos tupinambás sobreviverem seria sacrificar cada criança que nascesse a partir daquele dia. E isso foi recebido com muita preocupação, mas também com um certo compromisso – até político – de preservação do grupo”, narra Socorro Simões.

O sacrifício das crianças seguiu até que a filha do cacique, Iaça, ficou grávida. “Mas o cacique não poderia ter uma atitude diferente e sua neta também foi sacrificada. Iaça, de luto, ia todos os dias até o túmulo da filha e chorava inconsolada. Até que um dia ela percebeu que ali estava nascendo uma arvorezinha, uma palmeira”, conta a pesquisadora da UFPA.

Uma noite quando o cacique procurou a filha, a encontrou já morta e abraçada com a palmeira. “A moça estava com os olhos escuros voltados para a parte da planta onde um cacho de frutos nascera. Os frutos foram retirados e amassados. O líquido obtido deles passou a ser o principal alimento e o responsável por salvar a toda a tribo, incluindo as crianças que estavam por nascer. Em homenagem à filha e porque os frutos lembravam os olhos da jovem, o cacique batizou o novo alimento de açaí, que é Iaça, ao contrário”, resume a coordenadora do IFNOPAP.

População ainda sobrevive do açaí - Para Socorro Simões, ao contar sua narrativa, Mestre Miguel a conclui reforçando que, até hoje, muitas pessoas ainda têm o açaí como fonte de alimento e sobrevivem graças a ele. “Apesar de ter ganho outros mercados, o açaí ainda é um alimento muito associado a Belém e à história da Lenda do Açaí reforça isso: essa identidade.  O açaí  faz parte de uma cultura alimentar que o referencia, pois, é consumido  logo após ser retirado das palmeiras e amassado, com garrafas, pelas famílias ribeirinhas ou ainda comprado nas feiras de Belém. Este não é o mesmo açaí que alguém, em São Paulo, experimenta misturado com granola”.

Ainda de acordo com a pesquisadora da UFPA a narrativa também revela um certo sentimento de gratidão pelo fruto que alimenta e que faz parte do cotidiano de famílias com alta ou baixa renda. “Há uma referência nesta conclusão da lenda à ‘sobrevivência graças ao açaí’ e ao ‘sacrifício para obtê-lo’, que existe até hoje, especialmente entre famílias com menos recursos que se alimentam, trabalham e vivem graças a este fruto”.     

Socorro Simões reforça que as narrativas orais estão relacionadas com a cultura amazônica e nascem de um imaginário específico marcado pela relação íntima com o meio ambiente. “De um lado, é um privilégio pessoal poder vivenciar ou ter contato com este universo único. Ao mesmo tempo, a cultura que permite a existência deste imaginário na Amazônia, em sua forma de ver o mundo, pode ajudar outras culturas e rever sua relação com a natureza”.

Texto: Glauce Monteiro - Assessoria de Comunicação da UFPA
Publicado em: 11/09/2015
Unidade: Programa O Imaginário nas Narrativas Orais Populares da Amazônia Paraense (IFNOPAP).
Status: Pesquisadora Socorro Simões disponível para entrevistas.

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