Ir direto para menu de acessibilidade.
Início do conteúdo da página
Banco de Pautas

Valorização do açaí muda paisagem do estuário paraense

Produção do fruto é importante para sobrevivência das famílias ribeirinhas

De acordo com pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PA) o preço do açaí consumido em Belém sofreu reajuste de 34,6% no primeiro semestre de 2015. O aumento do preço do “vinho de açaí” está relacionado à valorização do produto no mercado regional, nacional e internacional, o que por sua vez têm influencia direta na sobrevivência das famílias ribeirinhas do estado e impacto sobre o meio ambiente das áreas de várzea no Pará.

A chamada “açaização do estuário amazônico” é um dos objetos de pesquisa da professora Oriana Almeida, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da UFPA (Naea). No projeto “Adaptações Socioculturais de Caboclos no Estuário Amazônico do Brasil para Eventos Extremos de Maré

Açaí domina as margens dos rios no Pará – “Essa valorização do açaí no mercado local, nacional e internacional, além do consumo no mercado urbano de Belém e outras cidades, mudou a estrutura de organização da floresta de várzea. Os produtores passaram a eliminar as plantas nativas e a expandir o cultivo de açaí buscando aumentar sua renda”, descreve a pesquisadora do Naea.

Essa intensificação do cultivo acontece tanto aumentando a área dedicada ao plantio de açaí, quanto aumentando, dentro destas áreas, o número de palmeiras plantadas. Com esta expansão, as espécies que não possuem valor econômico são eliminadas e substituídas pelo açaí, caracterizando o que é chamado a “açaização do estuário amazônico”, que atinge cidades localizadas na região Sul da Ilha do Marajó e/ou ao longo do Rio Tocantins como Igarape-Miri, Ponta de Pedras, Muana, Limoeiro do Ajuru e Cametá entre outras.

Oriana Almeida revela ainda que nos últimos anos há uma mudança na estrutura de renda entre a população ribeirinha. Em parte, isso acontece, devido devido a transferência de rendas como as do programa “Bolsa Família” e de aposentadorias rurais, mas principalmente devido a valorização do açaí, que assume ainda mais um papel de destaque como atividade econômica das famílias do estuário, substituindo outras práticas que antes eram mais importantes como a pesca de peixes e camarões ou a extração de espécies como andiroba ou ainda de árvores frutíferas.

Valorização do açaí tem vantagens e desvantagens - Para a pesquisadora da área de economia da UFPA a mudança na paisagem do estuário paraense devido a valorização do açaí tem prós e contras em virtude da valorização do açaí. De um lado, a possibilidade das famílias em aumentar a renda e, de outro, impactos ambientais e dependência da economia do açaí para a sobrevivência destas populações.

“Embora esse aumento de preço tenha beneficiado atravessadores e outros atores na cadeia produtiva e de comercialização do açaí, as famílias ribeirinhas também foram beneficiadas. Em passeios de barco no município de Cametá, por exemplo, vemos uma floresta composta essencialmente por açaizeiros devido a valorização do fruto. Por outro lado, esse processo também leva a um empobrecimento da floresta pela remoção de espécies nativas sem valor econômico”, acrescenta Oriana Almeida.

Diversificação da produção beneficia famílias de produtores - A pesquisadora também reforça a necessidade de diversificação da produção das famílias a fim de protegê-las de variações no mercado do açaí e outros impactos como eventos extremos que podem afetar a produção. 

“Se uma família sobrevive apenas do açaí e o preço sofrer redução, haverá um grande impacto para esta família. Mas se elas tiverem uma produção mais diversificada, oscilações de preço e de mercado do açaí ou de outros produtos específicos podem não ter impactos tão negativos, pois eles também poderão manter o padrão de renda graças a outras rendas como, por exemplo, de árvores frutíferas, pesca ou criação de animais de pequeno porte”.

Oriana Almeida reitera que na UFPA, o Programa de Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Empreendimentos Solidários, mantido no Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), é um dos grupos que tem atuado junto às comunidades do estuário paraense incentivando a sustentabilidade das famílias, o aumento da diversidade da produção e divulgando informações sobre a importância de não homogeneizar a paisagem especialmente por meio de sistemas agroflorestais.

Estima-se que cerca de 80% da produção do açaí é consumida regionalmente, cerca de 18% é enviada para outros estados e 2% tem como destino o mercado internacional. Esses percentuais, no entanto, podem variar conforme a época do ano e ainda conforme a reação do mercado em relação a produtividade, os quais mudam anualmente.

Aumento da temperatura global afeta produção de açaí – Na fase mais recente da pesquisa com as famílias de produtores rurais no estuário paraense, os economistas da UFPA também analisam os impactos das mudanças climáticas sobre a produtividade do açaí, com o apoio financeiro do International Development Research Centre (IDRC), Centro de pesquisa para o desenvolvimento internacional, do Canadá.

Os primeiros resultados da pesquisa feita com cerca de 500 ribeirinhos indicam que em anos mais quentes há uma redução de até 40% na produção do açaí. “O que mostra como os eventos climáticos mundiais têm impactos na vida das populações ribeirinhas na Amazônia”, considera a professora.

O projeto de pesquisa do Naea conta com a participação do professor Sérgio Rivero, do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFPA; do doutor Miguel Pinedo Vasquez, da Universidade da Columbia, nos Estados Unidos; da meteorologista brasileira Kátia Fernandes, que faz pós-doutorado na Universidade da Columbia; do pesquisador Nathan Vogt, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe); do professor canadense Peter Deadman, da Universidade de Waterloo, no Canadá; e do professor Eduardo Brondízio, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. Há, ainda, alunos de graduação e pós-graduação da UFPA e de outras instituições que também colaboram produzindo pesquisas relacionadas ao âmbito do Projeto.

Texto: Glauce Monteiro e Cléo Viana – Assessoria de Comunicação da UFPA
Publicado em: 14/09/2015
Unidade: Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA)
Status: professora e pesquisadora do NAEA, Oriana Almeida, disponível para entrevistas.
Saiba mais sobre o International Development Research Centre (IDRC)

registrado em: ,
Fim do conteúdo da página