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Pesquisa da UFPA fala sobre o amor após anos de casamento

Qual o segredo para manter um relacionamento e completar muitas bodas?

O amor na contemporaneidade é o tema central da tese de doutorado da antropóloga Telma Amaral, professora da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA). Para abordar esse assunto, a pesquisadora trabalhou com casais com várias faixas etárias e diferentes tempo de relacionamento, mas um dos aspectos marcantes da pesquisa foi a análise dos relacionamentos mais duradouros, que ultrapassam 40 anos de parceria amorosa.

“Preferi usar o conceito de ‘parceria amorosa’ e não de ‘casamento’ pois há outras formas de relacionamento que a palavra casamento não ajuda a explicar. O termo em si nos remete a cerimônia religiosa ou a uma formalização em alguma instância que não é mais uma regra ou norma atualmente. Assim, contabilizei o tempo que o casal está envolvido, desde o namoro até a convivência atual”. Entre os dez casais pesquisados dois se destacaram por ter 40 e 52 anos de relacionamento, respectivamente.

Destino ou escolha? “Estava escrito nas estrelas!”.“Ela/e foi feito para mim”. “Ela/e é a outra metade da minha laranja”. Expressões comumente ouvidas no cotidiano apareceram na pesquisa revelando a impressão de que há algo de predestinação em relação ao casal. “O interessante é que entre os casais pesquisados encontrei estas expressões mais entre os homens. Eles pareciam mais apaixonados e declaravam facilmente que a companheira era sua ‘mulher ideal’”, relembra a pesquisadora da UFPA.

Telma Amaral comenta ainda que as mulheres são mais criteriosas em relação aos relacionamentos e costumam manter um número maior de itens em suas “listas de atributos” que seriam desejáveis no conjugue. “Os homens, em geral, citam um ou dois aspectos. Elas acrescentam mais detalhes e esperam mais coisas”.

Ao lado da ideia de “destino” também emerge a noção do amor como uma construção cotidiana. “Uma das entrevistadas conseguiu expressar isso com a palavra ‘refinamento’. Os casais que estão juntos há mais tempo, afirmam que com o passar dos anos há um refinamento da relação, que só acontece nesta convivência cotidiana. Durante o namoro há uma performance, um ritual, com papéis e formas como as pessoas se apresentam. Ao ir viver ou morar juntos vemos o outro doente, desarrumado, com raiva e em várias situações impensáveis durante a época do namoro. É um novo ‘conhecer’ e uma nova realidade com a qual eles precisam lidar”.

A pesquisadora relembra que o amor é descrito por estes casais como uma planta que precisa de cuidados para crescer e sobreviver. “É uma analogia muito utilizada por eles e que remete as representações que permitem a continuidade do relacionamento”. De acordo com a pesquisa a receita para um relacionamento duradouro se baseia no “respeito, companheirismo, amizade e carinho”.

Segundo a professora Telma Amaral, o companheirismo é a ideia da necessidade de ter um par. O respeito está ligado a reciprocidade que em uma relação que, no mundo contemporâneo, é importante, pois se não houver a reciprocidade as relações se tornam mais fáceis de se desfazerem. E o carinho e amizade está intimamente ligado a sexualidade e a demonstração de afeto e cuidado com o outro.

Vida sexual também muda ao longo do casamento – Outra característica dos relacionamentos que se destacou na pesquisa foi o ritmo da vida sexual entre os casais. “Quanto menor o tempo de relacionamento, a vida sexual é mais intensa. Nas primeiras fases do casamento quando não há filhos, o sexo é mais presente, mais intenso, o número de vezes é maior. Mas com o passar do tempo, conforme o relacionamento se prolonga, fatores como a chegada dos filhos e a organização da vida cotidiana tendem a reduzir o tempo a dois”, revela Telma Amaral.

Ela explica que no início do relacionamento há um êxtase com a descoberta do corpo, do outro e do próprio prazer com a/o parceira (o). Por outro lado, se ao longo do tempo há uma diminuição da frequência das relações sexuais, os casais apontam uma maior satisfação sexual nas relações.

“Esta característica só aparece nos casais que estão juntos há mais tempo. O aprimoramento da prática sexual está relacionamento com o conhecimento adquirido do corpo da parceira (o), do que dá prazer ao outro, do que lhe traz prazer e também a descoberta de que é prazeroso satisfazer o outro. Eles elaboraram uma fala quase comum no sentido de dizer que num casal mais jovem há uma quantidade maior de vezes, enquanto num casal mais velho diminui a quantidade, mas a qualidade é melhor. É quase como uma equação matemática”, resume.

Segundo a professora, há no imaginário social, essa ideia de negação da sexualidade na terceira idade e ao longo dos casamentos duradouros. “Na prática, ela se mantém presente e têm como aliada a experiência e também soluções da medicina moderna. Essa impressão de que ‘velho não transa’ e de negação da sexualidade dos idosos está ligada a um contexto social mais amplo que privilegia a sexualidade jovem. Em referencias como músicas, literatura, cinema, por exemplo, se foca sempre o amor e a sexualidade entre jovens e na fase adulta. Não há ou raramente aparecem referências sobre isso na velhice”, questiona.

Telma Amaral defende que um novo olhar sobre o amor, os relacionamentos e seus diversos aspectos pode ajudar a manter novas perspectivas sobre a sexualidade em todas as fases da vida e, com isso, descontruir o imaginário de que casamentos duradouros são necessariamente infelizes e que a vida sexual tende a desaparecer com o passar dos anos.

“Tivemos uma época em que as mulheres permaneciam no casamento porque não havia opção, o que por outro lado não significa afirmar que todos os relacionamentos daquela geração eram infelizes. Hoje, porém, a separação é uma decisão relativamente comum. Então porque essas pessoas preferem permanecer juntas? Os relacionamentos duradouros que pesquisei conciliam as duas impressões de que há algo no ‘escolhido(a)’ que o diferencia dos demais, mas que é cotidiamente que o amor se constrói”.

 

Texto: Ronaldo Palheta e Glauce Monteiro – Assessoria de Comunicação da UFPA
Publicado em: 22/06/2015
Unidade: Faculdade de Ciência Sociais do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Status: Pesquisadora Telma Amaral disponível para entrevistas.
Pesquisa completa aqui.

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