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ASCOM UFPA

Sol e mar encantam visitantes das praias de Salinas

Problemas ambientais limitam potencial turístico da região

Dentre os balneários de água doce, típicos da Amazônia, as águas salgadas de Salinas se destacam. Se a beleza das praias, a programação noturna e as comunidades urbanas da cidade de Salinópolis são o ponto forte deste destino turístico, o uso indiscriminado do solo e seus problemas ambientais são o negativo. O turismo em Salinas é objeto de pesquisa de Deiliany Souza, ex-aluna do Programa de Pós-graduação em Geografia; e Milton Matta, pesquisador do Laboratório de Recursos Hídricos e Meio Ambiente, ligado à Faculdade de Geologia da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Na dissertação “Produção do Espaço, Infraestrutura Turística e Desenvolvimento socioespacial: uma análise do complexo orla praia do maçarico e da urbanização da Praia do Atalaia em Salinópolis-PA”, sob a orientação da pesquisadora Maria Goretti Tavares, Deiliany Souza explica que Salinas se destaca entre os demais balneários paraenses por reunir o “turismo de praia e mar” ao “turismo noturno”, aliados a infraestrutura urbana. Tudo isso a 215 km de viagem, a partirde Belém.

“O que torna Salinas única é o encanto das belezas naturais, dunas, praias extensas e bonitas de água salgada e o lago da Coca-Cola com água doce, que são paisagens muito belas. Ao mesmo tempo, há uma intensa programação com shows e apresentações no Complexo da Orla do Maçarico, bares, restaurantes e na cidade durante a noite, que atraem jovens e adultos. Tudo isso sem perder as comodidades e o conforto de casa, já que a localidadepossui farmácia, supermercados e toda a infraestrutura urbana”, acredita.

A pesquisadora acredita que Salinas herdou o público e o glamour do turismo de segunda residência de Mosqueiro. “Quem antes ira para Mosqueiro, hoje frequenta Salinas. No uso da praia é possível observar que há uma divisão nítida nesta ocupação. Na entrada, temos as famílias e grupos que vêm de ônibus em caravanas e piqueniques. No meio, encontramos famílias de classe média e alta buscam lazer e prática de esportes. No final da praia estão os mais jovens de classe alta com seus carros e sons automotivos. Essa divisão não possui um marco legal, mas acontece espontaneamente na forma como as pessoas territorializam a praia”.

O glamour de frequentar Salinas - O glamour de frequentar Salinas já faz parte da programação de férias de grande parte das famíliasdas classes média e alta do Pará. “Salinas herdou a elite que frequentava Mosqueiro. Isso porque a Ilha se popularizou ao longo do tempo. Até mesmo devido o transporte público regular com tarifa urbana, que conduz os banhistas a Mosqueiro. Os antigos veranistas mais abastados procuraram, então, outro lugar onde frequentar e, hoje, ir à Salinas ou ter casa em Salinas é glamoroso e traz status”, defende a geógrafa da UFPA.

Além disso, as políticas públicas municipais e estaduais que promovem o marketing turístico de Salinas têm um papel importante na divulgação deste destino turístico paraense. “Revistas de turismo e chamadas de televisão sobre turismo no Pará sempre apresentam imagens de Salinas. Há iniciativas específicas da Prefeitura e do Governo do Estado que atuam de forma diferenciada, mas acabam colaborando para que o lugar seja conhecido e atrativo”.

Ainda segundo a pesquisadora outros pontos que ainda podem ser divulgados sobre Salinas são as características culturais da região. “Apresentações de grupos folclóricos, do carimbo e outras danças e ritmos típicos, além da culinária da região do Salgado também podem ser atrativos aos turistas e precisam ser valorizados e divulgados”, recomenda.

Porque estacionar na areia é ruim? Uma das principais características das praias de Salinas está prejudicando o meio ambiente. “Os carros sãooutra questão delicada, a compactação do solo e os resíduos de óleo e outros contaminantes liberados pelos veículos e que podem prejudicar a praia são invisíveis aos frequentadores, mas diversas pesquisas têm alertado sobre esse problema e a necessidade de repensar o uso de carro nas praias”, conta Deiliany Souza.

Ela lembra que, apesar do trabalho intenso que o corpo de bombeiros mantém para alertar os frequentadores, a Maré Alta que atinge e encalha carros também é difícil de ser compreendida e aceita pelos turistas.

Já para o pesquisador Milton Matta do Laboratório de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da UFPA, além da presença dos carros na areia, as construções ao longo da praia e as barracas inadequadas para venda de comidas causam problemas para o solo, águas subterrâneas e, além de ameaçarem a paisagem e ecossistema do lugar, podem prejudicar a saúde de quem frequenta Salinas.

“Estacionar na areia constitui importante foco de contaminação das águas e areia da praia, além da poluição sonora. Essa contaminação das águas e areias pode chegar aos aquíferos, ou seja, às águas subterrâneas, mais superiores, contaminando-as e fazendo com que os poços que se abastecem dessas águas estejam contaminados”, alerta Milton Matta.

Salinização e contaminação das águas - Ele cita entre os principais problemas ambientais no lugar a contaminação do solo e da água devido o esgoto de barracas que vendem comida e bebidas. “Isso constitui grandes focos de doenças para a população que se serve da praia para seu lazer. Ao lado disso, as águas utilizadas pelos visitantes para a retirada do sal localizadas nas barraquinhas provém de poços que estão com suas águas totalmente contaminadas; com odor, cor e gosto típico de associação com fossas e outros dejetos humanos, o que constitui foco de doenças de veiculação hídrica”.

Já na praia há uma diminuição do aporte de areia. “Isso está fazendo com que as pedras estejam aflorando cada vez mais, o que pode causar o desaparecimento da praia do Atalaia. Há 20 anos, aquelas pedras estavam totalmente encobertas por areia. Agora estão aflorando em grandes extensões”, alerta o geólogo.

As construções ao longo da orla do Maçarico e em toda Salinópolis também trazem problemas. “Está havendo uma crescente impermeabilização do solo de Salinas, com os inúmeros hotéis e outras edificações. Isso faz com que as águas subterrâneas sofram uma diminuição em seu aporte a partir da superfície, porque a infiltração diminuiu”, esclarece.

Desde 2001, o pesquisador da UFPA têm divulgado os riscos de outro problema: a salinização das águas subterrâneas da cidade de Salinópolis. “Um número cada vez maior de poços de água subterrânea está sendo escavado na cidade. Isso diminui cada vez mais a quantidade de água doce em subsuperfície, fazendo com que exista um sério perigo de salinização das águas subterrâneas daquela cidade-balneário”.

Como ajudar Salinas? Para Deiliany Souza campanhas de sensibilização entre os banhistas enfrentam dificuldades, pois os veranistas ainda não percebem os impactos de suas ações e como eles ameaçam a continuidade de Salinas.

“Ali, as pessoas estão buscando lazer e resistem às tentativas de sensibilização. Mas ações como a coleta de lixo regular e o trabalho em parcerias do poder público com os comerciantes, por meio de ações práticas de educação ambiental aos veranistas,ajudariam e muito a preservação de Salinas”, acredita.

O pesquisador Milton Matta defende que esta parceria é fundamental para o futuro de Salinas. “Os poderes constituídos deveriam se importar com esses problemas e tomar medidas sérias para solucionar essas questões. Urge um trabalho de educação ambiental para mostrar aos visitantes os perigos que estão correndo e essa é a função dos educadores e da mídia”.

Texto: Glauce Monteiro e Cléo Viana – Assessoria de Comunicação da UFPA
Publicado em: 27/07/2015
Unidade: Programa de Pós-graduação em Geografia e Laboratório de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da UFPA
Status: Pesquisadores, Deiliany Souza e Milton Matta, disponíveis para entrevistas.
Fotos: Agência Pará e Adolfo Lemos.

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