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ASCOM UFPA

Pai é importante cuidador de crianças

Homens também ficam com a guarda dos filhos

Após rompimentos conjugais, mais de 87,6% das crianças passam a ficar sob a guarda das mães, 5,4% tem a guarda compartilhada entre os ex-companheiros, 5,3% ficam com o pai e cerca de 1,6% passam a viver com outros responsáveis. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em 2011, indicam que a relação entre pais e filhos muda após os divórcios. A paternidade após a separação do casal é um dos objetos de estudo do pesquisador Janari Pedroso, professor do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Ele alerta para a importância da presença do pai na vida dos filhos e os riscos da alienação parental. Trabalhando com os cuidadores, ou seja, pessoas que cuidam de crianças e adolescentes em diferentes situações, o pesquisador ressalta que há uma mudança significativa na formação das famílias e tem crescido o número de casos de pais que, após o fim da relação conjugal, assumem sozinhos a guarda e os cuidados com seus filhos. Além disso, mesmo quando a guarda fica com a mãe, o pai continua a ter um importante papel.

Presença do pai é importante para o desenvolvimento dos filhos – Janari Pedroso afirma que a presença dos pais é fundamental para o bom desenvolvimento das crianças, independentemente do tipo de formação familiar. Monoparental (apenas com um dos pais); nuclear (formada por pai, mãe e filhos); família extensa (quando tios, avós e primos passam a fazer parte do cotidiano das famílias); homoafetivas femininas ou masculinas, o que realmente é essencial é que este pai esteja presente.

“A relação com o pai influência nas futuras relações. Entre meninas, por exemplo, influencia suas futuras relações com companheiros e amigos. Quando a figura do pai é descontruída e essa criança cresce pensando que todos os homens são perversos ou que não são confiáveis, como estabelecer relações com o sexo oposto? É uma situação prejudicial ao desenvolvimento infanto-juvenil”, defende.

No trabalho clínico, o psicólogo da UFPA também observou a importância de manter relações honestas sobre a paternidade. “É um vazio, uma ausência o ‘não ter pai’ e na clínica, por vezes, vemos casos de pais que ressurgem. Crianças que crescem achando que não têm pai, que ele morreu ou não assumiu a paternidade, e cujo pai ‘aparece’ anos depois, seja na figura de um pai que a procura ou na informação de algum parente o qual revela que este pai pode estar vivo. É uma situação complicada, um vazio que pode não ser refeito, e que envolve a questão da mentira e da confiança nas relações familiares”.

Alienação parental prejudica crianças - Para o pesquisador, após o fim do relacionamento conjugal, quando a mãe fica exclusivamente com a guarda dos filhos e há um afastamento do convívio com o pai, essa ruptura pode prejudicar o desenvolvimento da criança.

“Ás vezes até inconscientemente a mãe pode contribuir para a desconstrução do pai. Quando ele fica limitado a visitas no fim de semana e quando nestes períodos sempre há uma festa de aniversário, um compromisso ou mesmo a suposta recusa da criança em ‘ir com o pai’, essa relação fica comprometida. Por vezes é a mãe que tem dificuldades nesta convivência e pode influenciar a criança e até mesmo gerar situações em que obriga o filho a escolher com quem ficar, o que é ruim para a criança, a qual não tem como lidar com isso”.

De acordo com Janari Pedroso, juridicamente a alienação parental (ou seja, quando o genitor que está com a guarda da criança influencia negativamente os filhos em relação ou genitor ausente) pode ser punida e levar a revisão da guarda, mas “ainda é difícil comprovar que a alienação parental está ou não acontecendo. Temos um judiciário que tradicionalmente vê a mãe como a melhor cuidadora, mesmo quando não é esse o caso, e temos ainda uma deficiência de profissionais de psicologia que consigam avaliar essa alienação”.

O pesquisador da UFPA também ratifica a importância de incentivar a presença do pai na vida dos filhos, mesmo após separações. Em casos de mães que cuidam sozinhas de crianças, “a forma como ela constrói esse outro que não está presente, tentando manter esta relação, pode ajudar a preencher essa referência ou indicar outra presença. A criança também encontra recursos para lidar com o desaparecimento de uma figura de cuidado, por meio, por exemplo, de um objeto transicional, como um urso de pelúcia, quando um dos cuidadores ‘desaparece’ de seu convívio cotidiano”, detalha.

E acrescenta: “Ninguém exerce igualmente a função de cuidado. Duas mulheres, dois homens, pai e mãe, avós e pais, a criança percebe a diferença do que é pai e o que é mãe também a partir do contato com o que não é pai e com o que não é mãe. Além disso, a função do cuidador masculino se faz presente com pais, irmãos, tios, amigos, avôs e até mesmo com a fantasia de um objeto transicional”.

Janari Pedroso acrescenta que um bom pai é aquele atente as necessidades da criança, que busca estabelecer um bom vínculo afetivo, estabelece limites e disciplina, que é constante e disponível, que mostra também que pode errar e pedir desculpas e que pode chorar. “O que vai determinar um bom desenvolvimento infantil é a qualidade da relação com seus cuidadores”.

Texto: Glauce Monteiro – Assessoria de Comunicação da UFPA
Publicado em: 21/08/2015
Unidade: Programa de Pós-graduação de Psicologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Status: Pesquisador Janari Pedroso  disponível para entrevistas.
Acesse a dissertação orientada pelo pesquisador aqui.

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