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Pesquisador da UFPA explica o impacto da perda nas ocupações do dia a dia

Como retornar as atividades cotidianas após a perda de um ente querido?

Oh, pedaço de mim. Oh, metade arrancada de mim. Leva o vulto teu. Que a saudade é o revés de um parto. A saudade é arrumar o quarto. Do filho que já morreu”. Após perder um ente querido, além de lidar com a falta que ele faz, quem fica, muitas vezes, tem dificuldades em manter atividades que eram realizadas em conjunto. Assim, tomar café da manhã, ouvir música ou ir a determinados lugares pode passar de algo trivial e um exercício pessoal de superação do luto.

O pesquisador Victor Cavaleiro, professor da Faculdade de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Pará (UFPA) estudou, em sua dissertação de mestrado, a retomada das atividades, ocupações e ritos cotidianos após a perda de um ente querido. O trabalho “A expressão do pesar nas atividades ocupacionais quando alguém querido morre” foi orientado pela pesquisadora Airle Miranda e defendido no Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFPA.

Ele explica que ao longo da vida, as pessoas desempenham atividades e ocupações significativas que compartilham com os entes queridos e pessoas que estão ao seu redor. A morte pode quebrar este ciclo e, a partir daí, requerer que as atividades do dia a dia sejam reconfiguradas.

A morte pode “quebrar cotidiano” de quem fica - “Alguém pode, por exemplo, ter o hábito de tomar café ou fazer um passeio com alguém muito querido. Algo que tem um valor ou significado diferente e específico devido à companhia desta pessoa. Se esse ser querido deixa de existir nesse plano, essas ocupações não poderão ser mais executadas da mesma forma que antes”.

Segundo o terapeuta ocupacional da UFPA, quando alguém não tem mais a possibilidade de realizar uma atividade que gosta ou necessita, pode viver o chamado “luto ocupacional”, que é causado pela perda da possibilidade ou condição de participar de ocupações significativas diárias que necessita ou deseja. “Leva um tempo para o luto ser elaborado e canalizado para encontrar uma nova forma de executar essa ocupação com satisfação”.

A pesquisa foi realizada em três encontros de maneira qualitativa com pessoas que buscaram ajuda em um Serviço de Pronto Atendimento a Pessoas que Sofreram Perdas. No primeiro encontro foram analisados como essas pessoas se ocupavam antes da perda. No segundo encontro foram avaliadas as ocupações após a perda. Já no terceiro momento, havia a possibilidade das pessoas se expressarem com materiais plásticos com tinta, cola, revistas, lápis de cor ou de outras maneiras.

Muitas vezes a fala não expressa o que realmente se sente - Victor Cavaleiro relembra que durante a pesquisa uma mãe que perdera a filha desenhou sua família com a menina ao centro. A criança estava com asas de anjo e a mãe acrescentou á figura a frase: “Eu me preparei para a vida que é incerta e nunca para a morte que é certa”.

Nessa fala “a gente consegue perceber o impacto de uma perda significativa na vida e no dia a dia das ocupações cotidianas das pessoas e essa estratégia não verbal abre uma possibilidade de expressão de luto”. Isso porque “nem tudo chega à fala. Nem toda pessoa consegue manifestar pelo canal da fala seu sofrimento e, às vezes, através de um recurso como o desenho ela complementa o que falou ou fala coisas que não foram ditas ou expressadas antes”.

Luto precisa ser respeitado e apoio é fundamental para superá-lo - O pesquisador da UFPA reforça a importância de respeitar o tempo necessário para que as pessoas expressem todo o investimento que era feito em companhia do outro perdido e que, depois da perda não é mais possível.

Victor Cavaleiro conta que o processo de luto varia. E o que vai caracterizar a intensidade deste sentimento é o tamanho do investimento naquela relação e o amor que existia entre as partes. No entanto, o pesquisador ainda destaca que fatores externos como a tendência social de negar a morte e as perdas e o estabelecimento de um “prazo para a recuperação desse luto”, podem silenciar esse sentimento e fazer com que a pessoa se sinta pressionada e não consiga superar a contento.

O apoio da família e da rede de amigos nesse sentido é primordial. “É sempre bom a pessoa ter um suporte na família e nos amigos. É importante ter a possibilidade de poder expressar aquilo que se está sentindo. É muito danoso quando alguém tenta expressar seu luto e não encontra um lugar, uma porta aberta para poder compartilhar isso.”

Quem sofre a perda e percebe que não consegue lidar com ela ou que tem dificuldades em realizar determinadas atividades que antes eram cotidianas precisa de auxílio. “Porém, precisa ser uma motivação individual, não pode ser algo conduzido por outros. A pessoas em luto precisa perceber sua situação e buscar expressar isso”.

Texto: Ronaldo Palheta – Assessoria de Comunicação da UFPA
Entrevista: Cléo Viana – Assessoria de Comunicação da UFPA
Divulgado em: 22/10/2015
Unidade: Faculdade de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Status: Pesquisador Victor Corrêa disponível para entrevistas.

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