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Pesquisadora da UFPA fala sobre morte e infância

Educação para a morte pode ajudar a lidar com perdas

A morte é um tema difícil de lidar, independente da causa, preparação ou idade. Mas e quando o “moribundo” é uma criança? A pesquisadora Simone Pampolha, psicóloga do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) estuda e lida com a morte infantil e comenta sobre como falar sobre a morte com as crianças e lidar com a morte de meninos e meninas.

Em sua dissertação de mestrado como o título “Criança não deveria morrer”, sob orientação da professora Airle Miranda, Simone Pampolha analisou como a equipe médica lida com o cuidado de crianças que sofrem com doenças terminais, como AIDS e Fibrose cística (doença de origem genética que tem como principal manifestação sintomas  respiratórios).

O estudo revela que os profissionais de saúde, assim como amigos e familiares, têm dificuldades em lidar com a perda e passam pelo processo de luto com a morte de crianças em estágio terminal. “Muitos deles, se colocavam no lugar das mães que estavam perdendo seus filhos, em um processo de identificação com a situação”, relembra Simone Pampolha.

Como falar sobre morte com crianças? Para ela, a morte infantil afeta a todos por ser uma inversão do ciclo natural de vida e pela imagem das crianças, em geral, estar sempre atrelada a impressões de saúde como ‘alguém no início da vida’, ‘alguém cheio de saúde’ ou ‘alguém cheio de energia’.

A pesquisadora também ressalta que mesmo abordar o tema com as crianças, quando algum parente morre, é difícil para as famílias, que sempre buscam um modo de não contar o que está acontecendo, embora a perda faça parte da vida dos pequenos.

“Devemos trazer a educação para a morte como um tema na escola, desde o pré-escolar, porque lidamos com perdas a todo momento, inclusive durante o desenvolvimento infantil. Ao longo do desenvolvimento humano as fases nos ensinam sobre perdas, separações e luto, como por exemplo, as crianças perdem o dentinho e outro nasce no lugar, elas perdem os bichos de estimação e também entes queridos”, ressalta.

Para ela, a educação para a morte, ou seja, explicar e falar com as crianças sobre a morte como parte do ciclo da vida e como algo natural seria uma solução. “Mas atualmente, da criança, escondemos a morte. Não se fala sobre isso com ela, não a levamos à velórios, mesmo quando de pessoas significativas da família. e sempre nos preocupamos em ‘como contar’”.

Crianças terminais lidam com a morte – E quando é a criança quem vai morrer, deve-se buscar a melhor forma de agir. “A morte nesse caso é mais interdita ainda, porque se alguma criança está morrendo a gente não quer nem falar para ela e nem sobre o fato de que ela vai morrer. Há toda uma concepção por trás disso que se baseia na ideia de que a criança não entende, não sabe, não vai compreender. Apesar de, em alguns casos, a criança lidar com a situação de forma muito madura”.

Ainda segundo Simone Pampolha, as pessoas têm muita dificuldade em falar com a criança sobre a morte e que esta dificuldade também está expressa no próprio significado da palavra infância: “Infante é aquele que não fala, não se dá voz, não se dá espaço, não se deixa essa criança compreender e falar sobre esse fato”, lamenta.

Apesar de ser um momento difícil, a pesquisadora salienta que há crianças mais conscientes sobre a morte do que os adultos e que enfrentam essa situação de uma forma mais madura. “Tem criança que escolhe a roupa que quer vestir quando estiver morta, que sabe exatamente o que vai acontecer, que pede para o profissional cuidar da mãe - preocupada com a mãe -, pois ela está preparada, a mãe não”.

Vários tipos de morte, diferentes impactos – A psicóloga do Hospital Barros Barreto também revela que apesar da dor ser a mesma independentemente do tipo de morte, a aceitação sobre ela não é. Diferentes tipos de morte têm impactos diferentes sobre o processo de luto dos pais, amigos e demais familiares.

Neste sentido, os casos de luto mais extremos e difíceis de lidar acontecem em relação a mortes inesperadas e repentinas. “Pais que perdem os filhos por violência, violência extrema ou por suicídio são situações mais complicadas. As pesquisas já mostram que essas pessoas sofrem um processo de luto muito mais complicado do que o natural e elas podem e devem procurar ajuda”, recomenda.

Ainda segundo a pesquisadora, a morte gradual aparenta facilitar o processo de recuperação ou a forma como os pais lidam com a perda, em relação a perda repentina dos filhos. “No caso da morte após doenças graves e crônicas, muitos pais, inclusive, começam a achar que a morte é um alívio para a criança que está sofrendo. Neste caso, a morte vem com uma outra roupagem, mais suave. Porém para aquele que não estava esperando, é realmente um impacto sem proporções, por conta da inversão, de não estar esperando.”

Doença pode causar “luto antecipatório” - Simone Pampolha afirma que a morte em decorrência de doença crônica envolve o que é chamado de “luto antecipatório”, processo de preparação para a perda e que se diferencia da perda repentina. “A morte anunciada da criança que já veio para o hospital várias vezes, que a mãe sabe que sofre de uma doença grave, exige, em termos psíquicos, uma elaboração antecipada, um processo de preparação para a perda e isso vai impactar de forma diferente daquela família que está com a criança saudável, brincando, indo para a escola e que de repente adoece gravemente ou acontece um acidente e você a perde.”

A pesquisadora também reflete sobre os casos de mortes por esquecimento de crianças, que sofrem acidentes domésticos ou morrem de insolação dentro de veículos. Nestes casos, os pais “já são condenados por eles próprios por conta da dor que isso vai causar. O impacto que tem para eles já é de condenação para a vida inteira, por isso, a Justiça compreende que eles não precisam ser condenados legalmente porque a condenação é íntima, na alma”.

Serviço:
Locais que disponibilizam atendimento psicológico gratuito em caso de perdas:

  • Hospital Universitário João de Barros Barreto – UNACON / Serviço de Cuidados Paliativos Oncológico (SCPO): (091) 32016766 / 88692109.
  •   Universidade Federal do Pará – Clínica Escola de Psicologia: (091) 32017669 / 32017446
  •  Instituto de  Ensino e Pesquisa em Psicologia e Saúde: (91) 32769021 / 81365323 (tim) / 88360588 (oi) / 93569966 (vivo) / 84761896 (claro)


Texto: Ronaldo Palheta – Assessoria de Comunicação da UFPA
Publicado em: 22/10/2015
Unidade: Hospital Universitário João de Barros Barreto
Status: Pesquisadora Simone Pamplona disponível para entrevistas

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