Produção de brinquedos de miriti é tema de pesquisa da UFPA
O estudo mostra a importância da vida associativa para sobrevivência dos artesãos
Quem olha os brinquedos de Miriti a venda em feiras de artesanato no Pará e em outros locais do Brasil, não imagina o esforço necessário para criar e expor ao consumidor uma peça tão bonita e complexa. As relações que perpassam a vida associativa dos artesãos que fabricam brinquedos de miriti na cidade de Abaetetuba, são objeto de estudo de Amarildo Ferreira, sob orientação do professor Silvio Figueiredo, no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (Naea/UFPA).
Com o título de “Entalhadores do efêmero: a vida associativa na criação dos brinquedos de miriti em Abaetetuba”, a pesquisa percebe a diferença ente associativismo e a vida associativa. Ou seja, a diferença entre o trabalho pautado em técnicas para obtenção de resultados e o trabalho que possui relações e significados mais abrangentes, resultado das relações dos artesãos entre si e com o mundo ao seu redor.
Associações valorizam trabalho e saber dos artesãos - Nesta tarefa, o mercado, o poder público e as famílias são algumas das diversas lógicas que se entrelaçam e que foram observadas no município de onde os brinquedos se originam. “Durante a pesquisa visitei várias vezes a cidade de Abaetetuba para acompanhar a produção dos brinquedos. Visitando as associações e os ateliês das famílias, chamados de núcleos criativos familiares”, lembra Amarildo Ferreira.
As visitam foram realizadas para compreender, entre outras coisas, as dificuldades encontradas pelas associações. “Se valoriza muito a peça final, mas se esquece de quem desenvolve as práticas para ter esse brinquedo. De se valorizar o trabalho realizado pelos artesãos”. Segundo Amarildo Ferreira, grande parte do ressentimento dos artesãos se dá pela falta dessa valorização do trabalho e do conhecimento que ele envolve.
Para se fortalecer e melhorar sua produtividade e possibilidade de vendas, os artesãos se organizaram em associações. Em Abaetetuba, ela são duas. A Associação dos Artesãos de Brinquedos e Artesanatos de Miriti de Abaetetuba (Asamab), fundada em 2003, com o apoio do Sebrae e com o objetivo de organizar o grupo; e a Associação Arte Miriti de Abaetetuba (Miritong), fundada em 2005 como organização não-governamental (Ong), e buscando realizar trabalhos comunitários com o miriti voltados para os jovens de Abaetetuba.
Segundo o pesquisador da UFPA, a formação de associações demonstra uma valorização intrínseca do trabalho e fortalece sua manutenção pois, “muitos deles não vivem apenas da produção de brinquedos e precisam desenvolver outras atividades como venda de peixe ou de açaí”.
Produção aumenta durante o Círio de Nazaré e o Miriti Fest - De acordo com as associações pesquisadas, cerca de 80 famílias de Abaetetuba estão envolvidas na produção de brinquedos de miriti. Elas dividem etapas da produção de maneira que algumas atuam no extrativismo do buriti/miriti e outras na preparação final de cada peça.
Ainda de acordo com Amarildo Ferreira, o processo criativo dos artesãos perpassa pelo uso de técnicas e elementos simbólicos para produzir brinquedos atrativos e com maior chance de serem vendidos. A produção tende a aumentar em dois momentos do ano. No primeiro semestre pela realização do Miriti Fest, em Abaetetuba; e no segundo semestre com a Feira de Miriti que tradicionalmente acontece uma semana antes da quadra nazarena, na Praça Dom Pedro II, em Belém.
Acoplados aos Círio, os brinquedos de miriti são amparados por leis nas três esferas: municipal, estadual e federal, como patrimônio da humanidade. Porém esse reconhecimento geralmente acontece apenas de forma simbólica. Financeiramente há pouca ajuda.
Para a realização da Feira de Miriti, em Belém, os artesãos precisam viajar para a capital do estado e recebem apoio financeiro para sua estadia. “Como o apoio financeiro é pequeno, quem não tem parentes na cidade ou não consegue dinheiro suficiente para hospedagem, acaba dormindo na própria praça por não ter onde dormir”, denuncia o pesquisador do Naea.
Durante o Círio, venda de brinquedos pode chegar a R$ 4 milhões - Apesar dos problemas, vir a Belém representa vantagens aos artesãos. Além de ajudar a reforçar o brinquedo de miriti como símbolo do Círio de Nazaré, durante a Feira, a venda dos brinquedos arrecada de R$ 2 milhões a R$ 4 milhões de reais. Esse cálculo é feito com base no número de artesãos presentes ao evento, número de peças à venda e o valor de cada uma.
Já o Miriti Fest, que ocorre na própria cidade de Abaetetuba, tem um resultado estimado em R$ 180 mil reais com as peças que são vendidas. “É notável que o brinquedo de miriti é uma economia pujante, apesar de um cenário de políticas públicas enfraquecidas para essa área”, acredita Amarildo Ferreira.
Para Silvio Figueiredo, orientador da pesquisa, valorizar a arte de produzir os brinquedos é essencial. “Valorizar o artesão é recuperar a importância dessas pessoas que são portadoras de um saber tão importante quanto o saber que é produzido na universidade, por exemplo. Este trabalho faz com que eles sejam identificados em um processo no qual eles são produtores de cultura”.
Texto: Lucas Muribeca e Glauce Monteiro – Assessoria de Comunicação da UFPA
Divulgado em: 14/09/2015
Unidade: Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea)
Status: Pesquisadores Amarildo Ferreira e Silvio Figueiredo disponíveis para entrevistas.
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