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Pesquisas da UFPA mostram como é a escolha do “par ideal”

Critérios de seleção amorosa entre casais e modelos de comportamento têm influencia familiar

“Ela é a mulher da minha vida! Ele é meu príncipe encantado!”. Afinal, quem é o homem ou mulher dos nossos sonhos? Pesquisas na área de Antropologia e Psicologia da Universidade Federal do Pará (UFPA) mostram que muitos fatores influenciam e estão relacionados aos critérios de seleção amorosa dos casais paraenses.

Os relacionamentos amorosos, em qualquer configuração, se tornam a base para a reprodução da espécie, sob os olhos da psicologia evolucionista, que norteia as pesquisas da professora Regina Célia Brito, do Núcleo de Teoria e Pesquisas do Comportamento (NTPC). Nestes estudos científicos é possível analisar questões que refletem em critérios implícitos ou explícitos que cada pessoa utiliza para escolher seu parceiro ou parceira, ou seja, “não existe amor à primeira vista, tudo faz parte de um processo muito mais complexo”, acredita.

Elas buscam companheirismo. Eles, saúde - De acordo com a doutora em psicologia nas relações amorosas em geral há uma gama de “enfeites” que a espécie humana desenvolveu ao longo do tempo para incentivar que os casais se mantenham juntos, o que facilita a reprodução e a sobrevivência dos filhos.

“Em cada lugar há mudanças no perfil do homem desejado, pois o que se considera ‘charmoso’ aqui não é o mesmo na Europa, mas, em geral, as mulheres buscam um companheiro que pareça ser um bom pai, provedor, que demonstre ser respeitoso, afetivo, trabalhador. Observam se aparenta ter um futuro promissor e tem chances de melhoria profissional e ainda se ele aparenta também desejar estar e permanecer com ela. Essas impressões que elas têm podem se confirmar ou não, mas são os indícios aos quais elas estão atentas”, conta Regina Célia Brito.

Já os homens têm preferências mais visuais e buscam mulheres jovens e bonitas, pois características como lábios vermelhos e face rosada são indicativos de saúde ou fertilidade e os homens continuam a buscar isso mesmo quando a interação sexual não busca a reprodução. A psicóloga da UFPA recorda de um experimento em que dois perfis de mulheres foram publicados em anúncios de encontros num jornal. Um era de uma mulher intelectual de 40 anos e o outro de uma jovem loira de olhos azuis que anunciava suas medidas. “A intelectual não recebeu 10% do total de correspondências que a jovem recebeu”.

Pais humanos são mais companheiros - Por outro lado, a pesquisadora destaca que entre todas as espécies, os homens são os que mais permanecessem e prestam auxílio a suas companheiras na hora da reprodução. “O bebê humano é um dos mais dependentes entre os animais. Ele só está maduro cerca de mil dias após seu nascimento. Por isso as mulheres foram, no decorrer da história da espécie, selecionando mais criteriosamente seus parceiros, pois, precisava que ele a protegesse e provesse seu sustento e de seus filhos”.

A possível tendência masculina para relações “sem compromisso” e feminina pelo “até que a morte nos separe” também pode estar na história da evolução da espécie humana. “Isso porque o homem pode facilmente fecundar uma mulher e ir embora, mas para as mulheres, ao longo do tempo, arriscar a relação sexual representava riscos de gerar um filho que ela poderia ter de cuidar sozinha”.

Regina Célia Brito, porém, ressalta que pelo olhar da psicologia evolucionista “não fomos selecionados apenas anatomicamente, mas também são importantes os nossos padrões comportamentais, pois, são o caminho como resolvemos questões de sobrevivência, as quais por sua vez mudaram nossa estrutura cerebral. É uma interação, um conjunto de fisiologia e interação com o ambiente que ajuda a entender nosso comportamento, inclusive de seleção amorosa”.

Belenenses tende a se relacionar com pessoas com seu mesmo perfil – Por outro lado, as pesquisas em Antropologia mostram que os casais têm perfil parecido. Ainda na graduação e durante sua pesquisa de mestrado, o aluno de doutorado do Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia da UFPA, Breno Alencar, analisou os registros de casamentos em paróquias de Belém e constatou que a maior parte dos casais de noivos são “homogâmicos”, ou seja, possuem características semelhantes como perfil socioeconômico, grau de instrução e mesmo proximidade espacial entre os locais em que vivem.

“Estes padrões parecem ser determinados pelo espaço físico, no caso o bairro, onde os usos do lugar e as características urbanas contribuem para reunir indivíduos com origem e condições socioeconômicas semelhantes”.

Entre os casais que pretendiam realizar a cerimônia de casamento no bairro da Cidade Velha, na Paróquia de Nossa Senhora das Graças, 68,8% dos casamentos envolviam indivíduos que viviam a uma distância de um quilômetro um do outro.

Por outro lado, na Paróquia de São Pedro e São Paulo, no bairro do Guamá, um elevado índice dos casamentos eram entre pessoas que vinham de cidades do interior ou que migraram do estado do Maranhão e cerca de 73% deles já moravam juntos ou eram vizinhos na época do noivado. Suas casas estavam a uma distância menor que cem metros e havia um alto percentual (51,6%) de casamentos comunitários – onde vários casais se casam ao mesmo tempo -, que são tradicionalmente mais baratos e tendem a envolver pessoas que já vivem consensualmente juntas e casam para “oficializar o relacionamento”.

O antropólogo reforça, porém, que apenas com entrevistas com casais de noivos e recém-casados pode observar melhor que características as pessoas buscavam no seu par ideal. “Minha pesquisa sobre a escolha do cônjuge entre noivos sintetiza isto para entender a dinâmica da trajetória afetiva de um sujeito, capaz de comparar, escolher, se arrepender da escolha, comparar de novo e, quem sabe, se arrepender de ter se arrependido, mudando de opinião conforme a natureza da situação”.

A análise mostra que o par ideal une características como contribuição financeira para o sustento da futura família, atrativos físicos que atraem o parceiro e ligação emocional com o mesmo. Os entrevistados também mostraram que sofrem influências de modelos de relacionamento/casamento que são próximos, tanto para tentar se aproximar quando são vistos como exemplo; quanto para negar o modelo, quando a relação é mal vista pelo indivíduo.

A pesquisa indica que o percurso do relacionamento possui três fases que antecedem o casamento. Inicia com o “flerte” ou “ficar” no qual ocorrem os primeiros contatos e um período de avaliação e reconhecimento do parceiro; segue com o “namoro”, período onde pode ou não haver um pedido formal de namoro, mas no qual há um longo processo de convívio e aproximação socioafetiva; e chega ao noivado que levará ao casamento. “Pode haver uma espécie de sobreposição entre o namoro e noivado, o qual muitos noivos chamaram de ‘fase do compromisso’. E nesta fase que se seleciona o par ideal”, revela.

Texto: Glauce Monteiro - Assessoria de Comunicação da UFPA
Divulgado em: 14/07/2015
Unidade: Núcleo de Teoria e Pesquisas do Comportamento e Programa de Pós-graduação em Antropologia e Sociologia
Status: Pesquisadores Reginá Célia Brito e Breno Alencar disponíveis para entrevistas.
Fotos: Alexandre Moraes e Adolfo Lemos.

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