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Como lidar com a morte infantil?

Pesquisa da UFPA mostra o desafio dos profissionais que tratam crianças em estágio terminal

A morte de uma criança é sempre um assunto delicado e produz mudanças no cotidiano da família. E quando um menino ou menina enfrenta uma doença terminal, requer um cuidado especial da equipe de saúde responsável por seu cuidado. Essa situação inspirou a pesquisa “Criança não deveria morrer”, fruto da dissertação de mestrado da psicóloga Simone Pampolha, no Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), sob orientação da professora Airle Miranda.

O estudo tem como objetivo refletir sobre a relação dos profissionais de saúde que cuidam de crianças, ao longo do processo em que se sabe que a morte é iminente. De acordo com Simone Pampolha, o desafio é grande porque a equipe médica é preparada para agir na tentativa de salvar vidas e na compreensão de que pode sempre atuar para salvá-las. Então como lidar com situações em que a morte se mostra presente?

Profissional de saúde também vive luto – Durante a pesquisa, a psicóloga do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) entrevistou 12 profissionais de diversas áreas da saúde e que trabalham diretamente com crianças em estágio terminal, para compreender como esses médicos, enfermeiros, terapeutas, psicólogos e assistentes sociais cuidam de crianças que eles sabem que irão morrer.

Entre os quadros clínicos das crianças cuidadas pelos profissionais pesquisadores se destacavam a AIDS e a Fibrose Cística (doença de origem genética que tem como principal manifestação sintomas  respiratórios), enfermidades que, em estágio avançado, causam muito sofrimento.

Simone Pampolha diz que, diante desses casos o profissional revelava fragilidades e sentimentos inerentes a qualquer ser humano, pois sofre quando sabe que vai perder o paciente e, ao mesmo tempo, pode desenvolver sentimentos de fracasso por não conseguir superar a doença e a morte. Situação que muitas vezes é alimentada pela onipotência atribuída ao profissional, devido sua atuação em curar e salvar.

Distanciamento profissional pode ser tentativa de autoproteção - “No caso dos profissionais de saúde estudados ficou evidente que eles passam por um sofrimento que chamamos de ‘luto não reconhecido’. Um luto onde o profissional sofre e vivencia todo um processo de luto tal qual qualquer outra pessoa que perde e passa por uma perda. No entanto, o arcabouço de profissional exige uma objetividade, um distanciamento, um não envolvimento com aqueles que ele cuida”.

Entre os profissionais entrevistados, alguns, como médicos, enfermeiros e terapeutas, por conta da sua formação mais técnica e de não trabalham um vínculo mais próximo aos pacientes, usavam isso como um mecanismo de proteção para se distanciar e não se envolver. Enquanto outros que trabalham de maneira mais pessoal com as crianças, como psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais apresentavam outra compreensão.

Independente da formação e tipo de trabalho desenvolvido, toda equipe médica passa pelo processo de luto e pode vir a apresentar problemas de saúde. “Ao não falar, ao não querer se envolver e passar por essa negação, os profissionais correm um sério risco de adoecimento. Porque muitas pesquisas já mostram que pessoas enlutadas, em que o luto não é bem elaborado, não é bem conduzido pela própria pessoa e por profissionais que cuidam, sofrem mais problemas de saúde”.

Serviço:
O Grupo de Estudos do Luto do HUJBB realiza momentos de conversa com profissionais, residentes e estagiários em alguns hospitais de Belém. Segundo a pesquisadora, ele vem ao encontro do anseio de se trabalhar mais a questão da morte entre os profissionais.

“É um grupo que para e, por uma hora, discute o que temos para falar sobre morte e que favorece uma série de condições para superar essas dificuldades. Ainda é pouco usado porque as pessoas têm dificuldade para falar sobre isso. A criança morre e todo mundo fica em silêncio, sofrendo e ninguém fala mais”.

Texto: Ronaldo Palheta – Assessoria de Comunicação da UFPA
Publicado em: 22/10/2015
Unidade: Hospital Universitário João de Barros Barreto
Status: Pesquisadora Simone Pampolha disponível para entrevistas.

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